sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Movimentos sociais do campo vão repetir ações unitárias nos estados


Numa demonstração de força popular, os movimentos sociais do campo marcharam com 10 mil pessoas pelas ruas da capital do país, nesta quarta-feira (22), para denunciar o “esmagamento” da população rural ante o atual padrão de desenvolvimento promovido pelo Estado brasileiro. O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas, que durou três dias, serviu também para selar uma articulação conjunta entre as 13 principais entidades que militam na questão agrária.
“O governo conhece bem as nossas reivindicações, mas não nos atendeu. A não resposta às nossas pautas fez com que unificássemos as ações, com forte expressão política. Para o próximo período, se desenha um cenário de grandes mobilizações nos estados”, avalia Rosângela Piovizani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).
O Encontro remete ao I Congresso Nacional Camponês, organizado em 1961, no auge da atuação das Ligas Camponesas. Naquela ocasião, também foram reunidas, em Belo Horizonte (MG), as principais organizações políticas que atuavam no campo. Na avaliação dos movimentos, apesar do fortalecimento do agronegócio na última década, somente agora foi possível reunir forças para uma ação conjunta entre diferentes entidades. “O dito projeto popular do último governo deixou encantados muitos companheiros e agora esse encantamento está sendo quebrado. Está muito claro que esse governo tem lado”, acrescentou Rosângela, do MMC.
Agronegócio
O documento final do Encontro Unitário não poupa críticas ao atual modelo de desenvolvimento do meio rural, centrado no agronegócio. Ao protestarem em frente ao Palácio do Planalto, camponeses, indígenas, quilombolas, pescadores e o conjunto dos trabalhadores não esconderam a decepção com a omissão do governo. Barracas de lona preta chegaram a ser montadas na praça dos Três Poderes.




No entanto, ao tentarem se aproximar do Palácio do Planalto, os camponeses foram reprimidos pela Polícia Militar (PM) com cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Após o tumulto, o documento final foi levado por 13 representantes mulheres em rápida reunião com o ministro Gilberto Carvalho, titular da Secretaria Geral da Presidência da República. O objetivo não era mesmo negociar.
“Nós estamos construindo a unidade em resposta aos desafios da desigualdade na distribuição da terra. Como nos anos 60, esta desigualdade se mantém inalterada, havendo um aprofundamento dos riscos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em consequência da especialização primária da economia”, diz um trecho do documento final.
Em outra parte, o documento sintetiza as principais contradições do setor: “este projeto, na sua essência, produz desigualdades nas relações fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda a dependência externa e realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus protagonistas são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o Estado brasileiro nas 






suas funções financiadora – inclusive destinando recursos públicos para grandes projetos e obras de infraestrutura – e (des) reguladora da terra”.
Na avaliação feita durante os três dias de encontro, o projeto em curso no Brasil visa tão somente a “acumulação de capital especializado no setor primário, promovendo superexploração agropecuária, hidroelétrica, mineral e petroleira”. Para atender o equilíbrio das transações externas, as consequências, denunciam os movimentos, são a concentração da propriedade da terra e da renda e a perda do território. “O Estado brasileiro está vendido para o capital do agronegócio, por isso não se respeita o direito de território indígena, nem quilombola”, afirmou Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional dos Quilombolas (Conaq).

23 de agosto de 2012
Pedro Rafael Ferreira
Da Agência Brasil de Fato
de Brasília (DF)

Foto: Ruy Sposati/Cimi

sábado, 11 de agosto de 2012

Encontro unitário dos trabalhadores, trabalhadoras e povos do campo, das águas e das florestas


Nos próximos dias 20 a 22 de agosto, Brasília sediará um encontro histórico: o Encontro unitário dos trabalhadores, trabalhadoras e povos do campo, das águas e das florestas será um grande momento em que os principais movimentos sociais do campo brasileiro, como o MST, o MPA, a Contag, a Fetraf, o Movimento Camponês Popular, quilombolas, pescadores dentre tantas outras organizações, estarão reunidos para firmar pautas e uma agenda de luta unitária.

Serão mais de 5 mil delegados e delegadas de todo o Brasil no Parque da Cidade. Há 51 anos não acontece algo parecido; o último foi o primeiro e único Congresso Camponês em 1961.
Esse encontro acontece em um momento em que a reforma agrária, a demarcação das terras indígenas e quilombolas estão paralisados. É preciso que tenhamos estratégias fundamentadas para que políticas de democratização do acesso a terra para os mais pobres avance neste País. As políticas estruturantes para o campo brasileiro não estão sendo realizadas e o agronegócio avança cada vez mais, escravizando trabalhadores, expulsando quilombolas e indígenas de seus territórios, destruindo a nossa natureza e ameaçando a nossa soberania através da aliança perversa com o capital internacional e financeiro.

Como já disseram as lideranças dos movimentos sociais, o agronegócio tem o discurso de ser um modelo lucrativo, rendendo mais de R$ 130 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto), mas esconde que o crédito vem do bolso do brasileiro:eles recebem do governo R$ 115 bilhões, além das dívidas que ano após anos são roladas, um verdadeiro calote aos cofres públicos. Além disso, o latifúndio e grandes empresas ligadas ao agronegócio dependem do financiamento do BNDES que deveria estar mais preocupado com projetos que gerem emprego e renda no campo, ou seja, nas experiências que privilegiam a agricultura familiar, cooperativas de trabalhadores, dentre tantos outros projetos que são levam desenvolvimento real para o campo brasileiro.

Durante o encontro, os trabalhadores, trabalhadores e povos do campo, das águas e das florestas farão um diagnóstico de como está a agricultura no Brasil, quais são os limites da Reforma Agrária, quem são os inimigos. O enfrentamento e a resistência contra o inimigo em comum, além da pressão ao Governo serão pautas para que a Reforma Agrária e o direito a terra para todos e todas seja colocado como prioridade número 1.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

"Vamos construir uma plataforma que represente a vontade da maioria do povo"




Em Sergipe, 200 militantes dos movimentos sociais do campo estão reunidos desde o dia 8 de agosto, na I Conferência Camponesa do Estado de Sergipe, no assentamento Moacir Wanderley. O encontro, que vai até o dia 10 de agosto, reúne militantes do Movimento dos Trabalhadores rurais Sem Terra (MST), da Federação dos Trabalhadores da Agricultura de Sergipe (FETASE), do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC), do Movimento da Mulher Trabalhadora Rural (MMTR), do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), da Marcha Mundial das Mulheres (MMM), dos Quilombolas, de associações de Pescadores e da Campanha permanente contra os agrotóxicos e pela vida.
Os participantes estão debatendo os temas da terra, do trabalho e da organização social do campesinato, preparando assim a sua participação unitária no Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas que reunirá, 50 anos depois do primeiro Congresso Camponês Nacional, os movimentos sociais do campo de todo o país.
Presente na Conferência Camponesa Sergipana, João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, fez uma análise do contexto do Encontro Unitário, que acontecerá em Brasília do dia 20 ao dia 22 de agosto. Segundo Stedile, o forte avanço do agronegócio torna indispensável uma luta unida dos movimentos sociais no campo. Confira a entrevista:

Qual foi a importância histórica do I Congresso Camponês Nacional em 1961?
João Pedro Stedile - O I Congresso Camponês foi um encontro histórico. Neste período, a luta de classe estava muito intensa no Brasil e a economia estava em crise. Diante dessa crise se recolocava a necessidade de uma reforma agrária como parte de um novo projeto pelo país. Imediatamente após a posse do governo de João Goulart, todas as forças que atuavam no meio rural brasileiro, que representavam naquela época quase 70% da população brasileira, organizaram o I Congresso Camponês. O Congresso reuniu setores organizados pelo Partido Comunista, sindicatos de trabalhadores rurais, o Movimento de Agricultores Sem Terra (MASTER), organizado por Brizola e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) no Sul do país, e as Ligas Camponesas no Nordeste. Aglutinou todas essas forças, inclusive setores da Igreja, que na época tinha muita influência. Deste Congresso saiu uma Carta pela reforma agrária, cuja essência era: ou o governo faz uma Lei de Reforma Agrária, ou nós faremos a reforma agrária na base da luta das massas. Daí surgiu a palavra de ordem: "A reforma agrária, na lei ou na marra". Depois deste Congresso não houve um evento nacional que juntasse de novo todas as forças populares atuando no meio rural brasileiro.

Por que demorou 50 anos para realizar um novo Encontro reunindo os movimentos camponeses?
Vários fatores históricos tiveram influência. Primeiro, houve um golpe de Estado em 1964, que destruiu as organizações camponesas. O movimento camponês ficou quase 20 anos destruído, até 1984. Passamos os 20 anos seguidos reconstruindo as organizações do campo e o movimento sindical. Hoje, as forças do capital se unificaram entorno do agronegócio. Esse novo contexto histórico exige que a população camponesa brasileira reconstrua um processo de unidade, como forma de resistir e repautar um projeto camponês pela agricultura brasileira.

Qual é a importância do Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas que acontecerá em Brasília?
Este encontro reveste um valor histórico impressionante. Não só porque levamos 50 anos para realizá-lo, mas, sobretudo, porque se dá em uma conjuntura que exige a unidade de todas as organizações do campo. Isto não significa superar as diferenças, mas juntar a diversidade das organizações em um só programa. O nosso grande objetivo histórico é aglutinar ideias que nos permitam construir um programa alternativo pela agricultura brasileira. Um programa baseado na soberania alimentar; na necessidade da reforma agrária; na agroecologia com uma nova matriz produtiva; na recuperação da soberania do povo brasileiro sobre os recursos naturais; na necessidade de levar a educação ao campo; na necessidade de recuperar a cooperação agrícola com cooperativas e agroindústrias para aumentar a renda e criar alternativas concretas de trabalho e renda para a juventude. Eu acho que os vários movimentos que atuam no campo têm hoje a maturidade necessária para construir esse programa de forma comum. Vamos deixar de lado aquilo que nos separa, para construir uma plataforma que represente a vontade da imensa maioria do nosso povo.



Setor de Comunicação do MST-SE, 9 de agosto de 2012

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Camponeses realizam a 1ª Conferência Camponesa do Estado de Sergipe

Após 50 anos do Congresso Camponês, acontece em Sergipe a primeira Conferência Camponesa que objetiva discutir a realidade do campo Sergipano e eleger uma delegação que se fará presente no “Encontro Unitário dos Trabalhadores e Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas” que acontecerá em Brasília entre os dias 20 e 22 de agosto de 2012.

Na programação será contemplada uma discussão sobre a conjuntura vivida hoje no campo e uma análise das políticas públicas existentes e que deveriam apoiar o campesinato.
Rememorar as lutas camponesas de Palmares e Canudos, resignificar as Ligas Camponesas e contextualizar os mártires que lutaram pela Reforma Agrária no Brasil até hoje.
As propostas sobre Terra, Trabalho e Organização Social do Campesinato.farão parte dos eixos dos planos de ação a ser implementado pelo Fórum Permanente de Articulação dos Movimentos Sociais do Campo de Sergipe.

PROGRAMAÇÃO

08 de Agosto de 2012
Manhã: Chegada, cadastramento, acolhida, mesa de abertura
10:00- Retomada do processo histórico do 1º Congresso Camponês- Fernando Sá/UFS
12:30 Almoço

Tarde: Conjuntura Agrária- Análise da conjuntura Agrária Nacional e Estadual- João Pedro Stedile e Theresa Zavaris
Debate na Plenária

Noite: Lançamento do Livro “Dicionário da Educação do Campo” da editora Expressão Popular.
09 de Agosto de 2012

Manhã: PAINEL I Reforma Agrária e Situação dos/as camponeses/as e Trabalhadores/as Rurais
FETASE: “Organização Sindical e Situação dos/as trabalhadores/as Rurais”
MST: “Reforma Agrária e Situação dos/as Assentados/as”
MPA: “Lutas e Situação dos/as Pequenos/as Agricultores/as”
Debate na Plenária
12:30 – Almoço

Tarde: PAINEL II Juventude, Mulheres e Povos Tradicionais: Organização e Lutas
MMTR/MMC: “Problemática e Lutas das Mulheres Camponesas”
COLETIVO DA JUVENTUDE: “Situação da Juventude no Meio Rural: Dilemas e Perspectivas”
PESCADORES/AS E QUILOMBOLAS: “Lutas e Organização dos Povos Tradicionais: o caso dos/as Pescadores/as e Quilombolas”
Debate na Plenária.

Noite de Valorização da Cultura Camponesa

10 de agosto de 2012

Manhã: PAINEL III Políticas Públicas, Crédito e Mercado Institucional para a Agricultura Familiar no Estado de Sergipe
EMBRAPA: “Atuação e Linhas de Pesquisa Orientadas Para os/as Pequenos/as Agricultores/as”
SEAGRI: “Programas e Projetos Para os/as Pequenos/as Agricultores Familiares: Alcance e Público Destinatário”
EMDAGRO: “A Assistência Técnica e Extensão Rural no Estado de Sergipe: balanço e perspectivas”.
CONAB/SEED: “O papel da Agricultura Familiar no Mercado Institucional: alcance, entraves e perspectivas.
Debate na Plenária

12:30 – Almoço
Tarde: PLANO UNIFICADO DE LUTAS, ENCAMINHAMENTOS DA CARAVANA E ENCERRAMENTO 







SE O CAMPO NÃO PLANTA!
A CIDADE NÃO JANTA!