Numa demonstração de força
popular, os movimentos sociais do campo marcharam com 10 mil pessoas pelas ruas
da capital do país, nesta quarta-feira (22), para denunciar o “esmagamento” da
população rural ante o atual padrão de desenvolvimento promovido pelo Estado
brasileiro. O Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do
Campo, das Águas e das Florestas, que durou três dias, serviu também para selar
uma articulação conjunta entre as 13 principais entidades que militam na
questão agrária.
“O governo conhece bem as
nossas reivindicações, mas não nos atendeu. A não resposta às nossas pautas fez
com que unificássemos as ações, com forte expressão política. Para o próximo
período, se desenha um cenário de grandes mobilizações nos estados”, avalia
Rosângela Piovizani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC).
O Encontro remete ao I
Congresso Nacional Camponês, organizado em 1961, no auge da atuação das Ligas
Camponesas. Naquela ocasião, também foram reunidas, em Belo Horizonte (MG), as
principais organizações políticas que atuavam no campo. Na avaliação dos
movimentos, apesar do fortalecimento do agronegócio na última década, somente
agora foi possível reunir forças para uma ação conjunta entre diferentes
entidades. “O dito projeto popular do último governo deixou encantados muitos
companheiros e agora esse encantamento está sendo quebrado. Está muito claro
que esse governo tem lado”, acrescentou Rosângela, do MMC.
Agronegócio
O documento final do Encontro
Unitário não poupa críticas ao atual modelo de desenvolvimento do meio rural,
centrado no agronegócio. Ao protestarem em frente ao Palácio do Planalto,
camponeses, indígenas, quilombolas, pescadores e o conjunto dos trabalhadores
não esconderam a decepção com a omissão do governo. Barracas de lona preta
chegaram a ser montadas na praça dos Três Poderes.
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No entanto, ao tentarem se
aproximar do Palácio do Planalto, os camponeses foram reprimidos pela Polícia
Militar (PM) com cassetetes, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
Após o tumulto, o documento
final foi levado por 13 representantes mulheres em rápida reunião com o
ministro Gilberto Carvalho, titular da Secretaria Geral da Presidência da
República. O objetivo não era mesmo negociar.
“Nós estamos construindo a
unidade em resposta aos desafios da desigualdade na distribuição da terra. Como
nos anos 60, esta desigualdade se mantém inalterada, havendo um aprofundamento
dos riscos econômicos, sociais, culturais e ambientais, em consequência da
especialização primária da economia”, diz um trecho do documento final.
Em outra parte, o documento
sintetiza as principais contradições do setor: “este projeto, na sua essência,
produz desigualdades nas relações fundiárias e sociais no meio rural, aprofunda
a dependência externa e realiza uma exploração ultrapredatória da natureza. Seus
protagonistas são o capital financeiro, as grandes cadeias de produção e
comercialização de commodities de escala mundial, o latifúndio e o Estado
brasileiro nas
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suas funções financiadora –
inclusive destinando recursos públicos para grandes projetos e obras de
infraestrutura – e (des) reguladora da terra”.
Na avaliação feita durante os
três dias de encontro, o projeto em curso no Brasil visa tão somente a
“acumulação de capital especializado no setor primário, promovendo
superexploração agropecuária, hidroelétrica, mineral e petroleira”. Para
atender o equilíbrio das transações externas, as consequências, denunciam os
movimentos, são a concentração da propriedade da terra e da renda e a perda do
território. “O Estado brasileiro está vendido para o capital do agronegócio,
por isso não se respeita o direito de território indígena, nem quilombola”,
afirmou Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional dos Quilombolas (Conaq).
23 de agosto de 2012
Pedro Rafael FerreiraDa Agência Brasil de Fato
de Brasília (DF)
Foto: Ruy Sposati/Cimi