sexta-feira, 28 de junho de 2013

"Precisamos disputar corações e mentes. Quem não entrar, ficará fora da história", diz Stedile

25 de junho de 2013


Por Nilton Viana

Do Brasil de Fato
É hora do governo aliar-se ao povo ou pagará a fatura no futuro. Essa é uma das avaliações de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre as recentes mobilizações em todo o país. Segundo ele, há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras, provocada por essa etapa do capitalismo financeiro.
"As pessoas estão vivendo um inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais”, afirma. Para o dirigente do MST, a redução da tarifa interessava muito a todo o povo e esse foi o acerto do Movimento Passe livre, que soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo.
Nesta entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Stedile fala sobre o caráter dessas mobilizações, e faz um chamamento: devemos ter consciência da natureza dessas manifestações e irmos todos para a rua disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. “A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil”, constata.
E faz uma alerta: o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. As forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas as suas energias para ir para a rua, pois está ocorrendo, em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. “Precisamos explicar para o povo quem são os principais inimigos do povo”.

Como você analisa as recentes manifestações que vem sacudindo o Brasil nas últimas semanas? Qual é base econômica para elas terem acontecido?
Há muitas avaliações de porque estarem ocorrendo estas manifestações. Me somo à analise da professora Erminia Maricato, que é nossa maior especialista em temas urbanos e já atuou no Ministério das Cidades na gestão Olivio Dutra.
Ela defende a tese de que há uma crise urbana instalada nas cidades brasileiras provocadas por essa etapa do capitalismo financeiro. Houve uma enorme especulação imobiliária que elevou os preços dos alugueis e dos terrenos em 150% nos últimos três anos.
O capital financiou sem nenhum controle governamental a venda de automóveis, para enviar dinheiropro exterior e transformou nosso trânsito um caos. E nos últimos dez anos não houve investimento em transporte público. O programa habitacional Minha Casa, Minha Vida, empurrou os pobres para as periferias, sem condições de infraestrutura.
Tudo isso gerou uma crise estrutural em que as pessoas estão vivendo num inferno nas grandes cidades, perdendo três, quatro horas por dia no trânsito, quando poderiam estar com a família, estudando ou tendo atividades culturais.
Somado a isso, a péssima qualidade dos serviços públicos em especial na saúde e mesmo na educação, desde a escola fundamental, ensino médio, em que os estudantes saem sem saber fazer uma redação. E o ensino superior virou lojas de vendas de diplomas a prestações, onde estão 70% dos estudantes universitários.

E do ponto de vista político, por que aconteceu?
Os quinze anos de neoliberalismo e mais os últimos dez anos de um governo de composição de classes transformou a forma de fazer política refém apenas dos interesses do capital. Os partidos ficaram velhos em suas práticas e se transformaram em meras siglas que aglutinam, em sua maioria, oportunistas para ascender a cargos públicos ou disputar recursos públicos para seus interesses.
Toda juventude nascida depois das diretas já, não teve oportunidade de participar da política. Hoje, para disputar qualquer cargo de vereador, por exemplo, o sujeito precisa ter mais de 1 milhão de reais. Deputado custa ao redor de 10 milhões de reais. Os capitalistas pagam, e depois os políticos obedecem. A juventude está de saco cheio dessa forma de fazer política burguesa, mercantil.
Mas o mais grave foi que os partidos da esquerda institucional, todos eles, se moldaram a esses métodos. Envelheceram e se burocratizaram. E, portanto, gerou na juventude uma ojeriza a forma dos partidos atuarem. E eles tem razão. A juventude não é apolítica, ao contrário, tanto é que levou a política às ruas, mesmo sem ter consciência do seu significado.
Estão dizendo que não aguentam mais assistir na televisão essas práticas políticas, que seqüestraram o voto das pessoas, baseadas na mentira e na manipulação. E os partidos de esquerda precisam reapreender que seu papel é organizar a luta social e politizar a classe trabalhadora. Senão cairão na vala comum da história.

E porque as manifestações eclodiram somente agora?
Provavelmente tenha sido a soma de diversos fatores de caráter da psicologia de massas, mais do que alguma decisão política planejada. Somou-se todo o clima que comentei, mais as denúncias de superfaturamento das obras dos estádios, que é um acinte ao povo. Vejam  alguns episódios. A Rede Globo recebeu do governo do estado do Rio e da prefeitura, 20 milhões de reais de dinheiro público para organizar o showzinho de apenas duas horas, no sorteio dos jogos da Copa das Confederações.
O estádio de Brasília custou 1,4 bilhões de reais e não tem ônibus na cidade! A ditadura explícita e as maracutais que a FIFA/CBF impuseram e os governos se submeteram. A reinauguração do Maracanã foi um tapa no povo brasileiro. As fotos eram claras: no maior templo do futebol mundial não havia nenhum negro ou mestiço!
E aí o aumento das tarifas de ônibus foi apenas a faísca para ascender o sentimento generalizado de revolta, de indignação. A gasolina para a faísca veio do governo Gerlado Alckmin, que protegido pela mídia que ele financia e acostumado a bater no povo impunemente, como fez no Pinheirinho, jogou sua polícia para a barbárie. Aí todo mundo reagiu.

Ainda bem que a juventude acordou. E nisso houve o mérito do Movimento Passe Livre, que soube capitalizar essa insatisfação popular e organizou os protestos na hora certa.

Por que a classe trabalhadora ainda não foi à rua?

É verdade, a classe trabalhadora ainda não foi para a rua. Quem está na rua são os filhos da classe média, da classe média baixa, e também alguns jovens do que o André Singer chamaria de sub-proletariado, que estudam e trabalham no setor de serviços, que melhoraram as condições de consumo, mas querem ser ouvidos. Esses últimos apareceram mais em outras capitais e nas periferias.
A redução da tarifa  interessava muito a todo povo e esse foi o acerto do MPL. Soube convocar mobilizações em nome dos interesses do povo. E o povo apoiou as manifestações e isso está expresso nos índices de popularidade dos jovens, sobretudo quando foram reprimidos.
A classe trabalhadora demora a se mover, mas quando se move, afeta diretamente ao capital. Coisa que ainda não começou a acontecer. Acho que as organizações que fazem a mediação com a classe trabalhadora ainda não compreenderam o momento e estão um pouco tímidas. Mas acho que enquanto classe, ela também está disposta a lutar. Veja que o número de greves por melhorias salariais já recuperou os padrões da década de 80.
Acho que é apenas uma questão de tempo, e se as mediações acertarem nas bandeiras que possam motivar a classe a se mexer. Nos últimos dias, já se percebe que em algumas cidades menores, e nas periferias das grandes cidades, já começam a ter manifestações com bandeiras de reivindicações bem localizadas. E isso é muito importante.


E vocês do MST e camponeses também não se mexeram ainda.


É verdade. Nas capitais onde temos assentamentos e agricultores familiares mais próximos já estamos participando. E inclusive sou testemunho de que fomos muito bem recebidos com nossa bandeira vermelha, com nossa reivindicação de Reforma Agrária e alimentos saudáveis e baratos para todo povo.
Acho que nas próximas semanas poderá haver uma adesão maior, inclusive realizando manifestações dos camponeses nas rodovias e municípios do interior. Na nossa militância  está todo mundo doido para entrar na briga e se mobilizar. Espero que também se mexam logo.


Na sua opinião, qual é a origem da violência que tem acontecido em algumas manifestações?
Primeiro vamos relativizar. A burguesia através de suas televisões tem usado a tática de assustar o povo colocando apenas a propaganda dos baderneiros e quebra-quebra.  São minoritários e insignificantes diante das milhares de pessoas que se mobilizaram.

Para a direita interessa colocar no imaginário da população que isso é apenas bagunça, e no final se tiver caos, colocar a culpa no governo e exigir a presença das forças armadas. Espero que o governo não cometa essa besteira de chamar a guarda nacional e as forças armadas para reprimir as manifestações. É tudo o que a direita sonha!
Quem está provocando as cenas de violência é a forma de intervenção da Policia Militar. A PM foi preparada desde a ditadura militar para tratar o povo sempre como inimigo. E nos estados governados pelos tucanos(SP, RJ e MG), ainda tem a promessa de impunidade. 

Há grupos direitistas organizados com orientação de fazer provocações e saques. Em São Paulo atuaram grupos fascistas e leões de chácaras contratados. No Rio de Janeiro atuaram as milícias organizadas que protegem seus políticos conservadores. E claro, há também um substrato de lumpesinato que aparece em qualquer mobilização popular, seja nos estádios, carnaval, até em festa de igreja tentando tirar seus proveitos.

Há então uma luta de classes nas ruas ou é apenas a juventude manifestando sua indignação?
É claro que há uma luta de classes na rua. Embora ainda concentrada na disputa ideológica. E o que é mais grave, a própria juventude mobilizada, por sua origem de classe, não tem consciência de que está participando de uma luta ideológica.
Vejam, eles estão fazendo política da melhor forma possível, nas ruas. E ai escrevem nos cartazes: somos contra os partidos e a política? Por isso tem sido tão difusa as mensagens nos cartazes. Está ocorrendo em cada cidade, em cada manifestação, uma disputa ideológica permanente da luta dos interesses de classes. Os jovens estão sendo disputados pelas idéias da direita e pela esquerda. Pelos capitalistas e pela classe trabalhadora.
Por outro lado, são evidentes os sinais da direita muito bem articulada, e de seus serviços de inteligência, que usam a internet, se escondem atrás das mascaras e procuram criar ondas de boatos e opiniões pela internet. De repente uma mensagem estranha alcança milhares de mensagens. E ai se passa a difundir o resultado como se ela fosse a expressão da maioria.
Esses mecanismos de manipulação foram usados pela CIA e o departamento de estado Estadunidense na primavera árabe, na tentativa de desestabilização da Venezuela, na guerra da Síria. E é claro que eles estão operando aqui também para alcançar os seus objetivos.

E quais são os objetivos da direita e suas propostas?
A classe dominante, os capitalistas, os interesses do império Estadunidense e seus porta-vozes ideológicos que aparecem na televisão todos os dias, tem um grande objetivo: desgastar ao máximo o governo Dilma, enfraquecer as formas organizativas da classe trabalhadora, derrotar qualquer propostas de mudanças estruturais na sociedade brasileira e ganhar as eleições de 2014, para recompor uma hegemonia total no comando do estado brasileiro, que agora está em disputa.

Para alcançar esses objetivos eles estão ainda tateando, alternando suas táticas. As vezes provocam a violência, para desfocar os objetivos dos jovens. As vezes colocam nos cartazes dos jovens a sua mensagem. Por exemplo, a manifestação do sábado em São Paulo, embora pequena, foi totalmente manipulada por setores direitistas que pautaram apenas a luta contra a PEC 37, com cartazes estranhamente iguais e palavras de ordem iguais.
Certamente a maioria dos jovens nem sabem do que se trata. E é um tema secundário para o povo, mas a direita está tentando levantar as bandeiras da moralidade, como fez  a UDN (União Democrática Nacional) em tempos passados. Isso que já estão fazendo no Congresso, logo logo, vão levar às ruas.

Tenho visto nas redes sociais controladas pela direita que suas bandeiras, além da PEC 37, são a saída do Renan do Senado, CPI e transparência dos gastos da Copa, declarar a corrupção crime hediondo, e fim do Foro especial para os políticos. Já os grupos mais fascistas ensaiam Fora Dilma e abaixo-assinados pelo impechment.

Felizmente essas bandeiras não tem nada ver com as condições de vida das massas, ainda que elas possam ser manipuladas pela mídia. E objetivamente podem ser um tiro no pé. Afinal, é a burguesia brasileira, seus empresários e políticos que são os maiores corruptos e corruptores. Quem se apropriou dos gastos exagerados da Copa? A Rede Globo e as empreiteiras!

Quais os desafios que estão colocados para a classe trabalhadora e as organizações populares e partidos de esquerda?
Os desafios são muitos. Primeiro devemos ter consciência da natureza dessas manifestações, e irmos todos para a rua, disputar corações e mentes para politizar essa juventude que não tem experiência da luta de classes. Segundo, a classe trabalhadora precisa se mover. Ir para a rua, manifestar-se nas fábricas, campos e construções, como diria Geraldo Vandré. Levantar suas demandas para resolver os problemas concretos da classe, do ponto de vista econômico e político.
Terceiro, precisamos explicar para o povo quem são seus principais inimigos. E agora são os bancos, as empresas transnacionais que tomaram conta de nossa economia, os latifundiários do agronegócio, e os especuladores.

Precisamos tomar a iniciativa de pautar o debate na sociedade e exigir a aprovação do projeto de redução da jornada de trabalho para 40 horas; exigir que a prioridade de investimentos públicos seja em saúde, educação, Reforma Agrária.
Mas para isso o governo precisa cortar juros e deslocar os recursos do superávit primário, aqueles 200 bilhões de reais que todo ano vão para apenas 20 mil ricos, rentistas, credores de uma dívida interna que nunca fizemos, deslocar para investimentos produtivos e sociais. E é isso que a luta de classes coloca para o governo Dilma: os recursos públicos irão para a burguesia rentista ou para resolver os problemas do povo?

Aprovar em regime de urgência para que vigore nas próximas eleições uma reforma política de fôlego, que no mínimo institua o financiamento público exclusivo da campanha. Direito a revogação de mandatos e plebiscitos populares auto-convocados.
Precisamos de uma reforma tributária que volte a cobrar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) das exportações primárias, penalize a riqueza dos ricos e amenize os impostos dos pobres, que são os que mais pagam.

Precisamos que o governo suspenda os leilões do petróleo e todas as concessões privatizantes de minérios e outras áreas públicas. De nada adianta aplicar todo royalties do petróleo em educação, se os royalties representarão apenas 8% da renda petroleira, e os outros 92% irão para as empresas transnacionais que vão ficar com o petróleo nos leilões!

Uma reforma urbana estrutural, que volte a priorizar o transporte público, de qualidade e com tarifa zero. Já está provado que não é caro e nem difícil instituir transporte gratuito para as massas das capitais. Controlar a especulação imobiliária.
E finalmente, precisamos aproveitar e aprovar o projeto da Conferência Nacional de Comunicação, amplamente representativa, de democratização dos meios de comunicação. Para acabar com o monopólio da Globo e para que o povo e suas organizações populares tenham ampla acesso a se comunicar, criar seus próprios meios de comunicação, com  recursos públicos. Ouvi de diversos movimentos da juventude que estão articulando as marchas, que talvez essa seja a única bandeira que unifica a todos: Abaixo ao monopólio da Globo!   
Mas para que essas bandeiras tenham ressonância na sociedade e pressionem o governo e os políticos, somente acontecerá se a classe trabalhadora se mover.

O que o governo deveria  fazer agora?
Espero que o governo tenha a sensibilidade e a inteligência de aproveitar esse apoio, esse clamor que vem das ruas, que é apenas uma síntese de uma consciência difusa na sociedade, que é hora de mudar. E mudar a favor do povo.
E para isso o governo precisa enfrentar a classe dominante, em todos os aspectos. Enfrentar a burguesia rentista, deslocando os pagamentos de juros para investimentos em áreas que resolvam os problemas do povo. Promover logo as reformas políticas, tributárias. Encaminhar a aprovação do projeto de democratização dos meios de comunicação. Criar mecanismos para investimento pesados em transporte público, que encaminhem para a tarifa zero. Acelerar a Reforma Agrária e um plano de produção de alimentos sadios para o mercado interno.

Garantir logo a aplicação de 10% do PIB em recursos públicos para a educação em todos os níveis, desde as cirandas infantis nas grandes cidades, ensino fundamental de qualidade, até a universalização do acesso dos jovens à universidade pública.

Sem isso, haverá uma decepção, e o governo entregará para a direita a iniciativa das bandeiras, que levarão a novas manifestações visando desgastar o governo até as eleições de 2014. É hora do governo aliar-se ao povo, ou pagará a fatura no futuro.  

E que perspectivas essas mobilizações podem levar para o país nos próximos meses?
Tudo ainda é uma incógnita. Porque os jovens e as massas estão em disputa. Por isso que as forças populares e os partidos de esquerda precisam colocar todas suas energias para ir à rua. Manifestar-se, colocar as bandeiras de luta de reformas que interessam ao povo, porque a direita vai fazer a mesma coisa e colocar as suas bandeiras conservadoras, atrasadas, de criminalização e estigmatização das idéias de mudanças sociais.
Estamos em plena batalha ideológica que ninguém sabe ainda qual será o resultado. Em cada cidade, cada manifestação, precisamos disputar corações e mentes. E quem não entrar, ficará de fora da história.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O que esperar das ruas? “eu acredito é na rapaziada”

Por Camilo Feitosa Daniel


Foto: Fernando Correia (Cocoh)
Após mais de 20 anos sem presenciar grandes manifestações de rua, a nação brasileira presenciou uma nova geração que começou a ocupar as principais avenidas para protestar contra a ausência dos inúmeros direitos adquiridos na constituição de 1988.
As passeatas engrossaram o caldo após a repressão violenta que os militantes do Passe Livre sofreram da PM de São Paulo. Depois disso, as manifestações contra o aumento da passagem ganhou também uma adesão das pessoas que queriam saúde e educação de qualidade, além dos que queriam questionar os gastos com a copa do mundo.
No entanto, as manifestações que eram consideradas pela Imprensa televisiva como “violentas” e organizada por “vândalos”, passou a ser considerada como “o dia que o gigante acordou”. O maior absurdo de todo esse oportunismo “global”, foi a forma como a rede globo  transformou a pauta das manifestações, que deixou de ser contra o aumento da passagem e passou a ser contra a corrupção.
A rede globo passou a influenciar os gritos contra os partidos políticos e começou a inflamar o discurso patriota. O que se esperar de tudo isso?
Não obstante, vários pensadores do jornalismo brasileiro já tinham identificado no Brasil a existência de um partido que não era institucionalizado, mas que manipulava todo o discurso político nessa linda nação, tencionando para um “golpe de estado”. Eles batizaram de Partido da Imprensa Golpista (PIG), onde a rede globo é a dirigente maior.
Nesse momento, a principal questão a se colocar é: Pra onde vai essa energia? O que queremos com essa manifestação?Em primeiro lugar é preciso ponderar que essas manifestações ocorrem com novos repertórios. A sociedade civil, que era desorganizada e começou a participar desses movimentos, não querem ser guiadas por partidos ou agrupamentos políticos por compreender que haverá uma autopromoção dessas lideranças. Falo isso porque fiz parte, ainda do Movimento estudantil secundarista, de um grupo que acreditava que o movimento estudantil deveria ser independente, por isso sei bem do que se trata.
Em segundo lugar é necessário que esse povo que veio às ruas, e que veio de forma espontânea, queira cada vez mais aprofundar a democracia. Não estou falando aqui de fortalecimento das instituições, estou falando em direitos básicos, como a saúde, educação, emprego, moradia, terra, transporte e tantas outras coisas, que são destinadas para um grupo e não para toda a população.
É necessário que o povo que veio às ruas, grite pelos reais problemas da nação brasileira. É preciso sair das aparências pra compreender que o que está por trás da inflação é uma crise de produção, que existe porque o latifúndio no Brasil produz igualzinho ao período colonial, e o pior, não produz alimentos, produz ração animal pra Europa e para os EUA. Qual a solução pra esse problema?
É necessário que o povo que veio às ruas, lute também pelos que não vieram as ruas por que estão trabalhando! É necessário que lembremos que os operários da construção civil, que constrói todos os prédios, não são reconhecidos com bons salários; ou os cortadores de cana, que são explorados e vivem em semiescravidão; os agentes de limpeza que deixam nossa cidade limpa e não recebem nem hora extra; é necessário que o povo que veio às ruas, lembre-se de pedir casas populares para os que não conseguirão comprar por conta da especulação imobiliária;
É necessário que essa juventude conteste! É necessário que essa juventude se pergunte sobre o motivo da televisão em Sergipe pertencer a duas famílias e no Brasil a meia dúzia. Como solucionar isso? É necessário que essa juventude se pergunte também, sobre as empresas de transporte público em Aracaju. Será que é correto existir cartel? Pra onde vai o dinheiro das passagens? Porque os ônibus são carroças velhas e feias? Porque?
Tenho certeza que a juventude não quer ser “Maria vai com as outras”, da mesma forma que sei que essa juventude pensa no próximo, no que é excluído desse sistema e no que é explorado. Tenho certeza que essa juventude “vai em frente e segura o rojão”, sabendo o que quer e dando todas as energias pra construirmos um Brasil melhor, que vai se construir quando democratizarmos as riquezas desse Brasil com TODOS os brasileiros!

Estudante de ciências sociais da UFS
Twitter: @camilo673 facebook: http://www.facebook.com/camilo.feitosa?ref=tn_tnmn

terça-feira, 25 de junho de 2013

"Algum dia vai mudar. Esta começando com esses jovens." Stédile fala sobre os protestos no Brasil

João Pedro Stédile, líder do MST, avalia protestos e critica aliança com a burguesia, agronegócio e alimentos transgênicos

Ao receber a reportagem da Folha de Caxias, o líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, descartou formalidades logo de início. ‘Chamar alguém de senhor é prática herdada da escravidão’, disse ele. Habituado a lutas sociais, Stédile integra o MST desde sua fundação, há 30 anos. Tempo que, para ele, só foi possível graças à política de não submissão a governos. Formado em Economia pela PUC/RS e pós-graduado pela Universidade Autônoma do México, atualmente é diretor nacional do Movimento. A convite dos Diretórios Acadêmicos de Direito e História da Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele esteve na cidade na quarta-feira (19).
Para a Folha de Caxias, Stédile falou sobre as relações entre as manifestações atuais, governo e política. O líder social não economizou afirmações sobre o PT, reforma agrária, agronegócio e capitalismo. Em maio, o MST ocupou o Ministério de Minas e Energia por dois dias. Quanto ao assunto, a mídia ‘não deu uma linha’, salientou. Nas próximas linhas você confere a entrevista que Stédile concedeu a Folha de Caxias.
Folha: Acostumado a protestos, como você avalia as mobilizações atuais?
Stédile: Nos pegaram de surpresa. São consequências dos problemas estruturais que há nas cidades brasileiras, é a crise urbana. Sem canais para reclamar, surge de repente como uma faísca que explodiu no aumento da passagem em São Paulo. Foi o estopim de uma bomba já armada. A solução não será apenas a redução da tarifa. Espero que as mobilizações consigam chamar atenção da sociedade porque o governo… os governos perderam a sensibilidade social.
Folha: Seria uma crise do capitalismo? 
Stédile: O capitalismo já está em crise porque transforma tudo em mercadoria e só valoriza o que dá lucro. Mas no meio da sociedade, ele vai projetando problemas específicos como este que surgiu. Acho que a manifestação atinge os governos também porque estamos vivendo uma crise política de representação. Os partidos não conseguem mais canalizar as demandas populares. Então, as mobilizações são contra o que um sociólogo já chamou de peemedebismo, que tomou conta da política brasileira. Tu vota, vota e nunca muda nada.
Folha: Tomou conta também do PT? 
Stédile: Claro, o PT é refém dessas alianças que ele fez, nos municípios, nos Estados. O governo Dilma não é governo do PT. Participam 13 partidos. O Maluf, execrado como símbolo da ditadura militar, controla dois ministérios. Então o governo Dilma é um governo de alianças. Não é do PT e muito menos da classe trabalhadora. De certa forma, essa rebeldia é também contra essa forma de fazer política em que os partidos manipulam. Eles escolhem os candidatos e a população é chamada a cada dois anos para votar. Mesmo que vote em algo diferente depois não muda nada.
Folha: As movimentações são apartidárias. Seria sinal de uma nova tendência?
Stédile: Não. Acho que o futuro é democratizar os partidos. Essa forma de eleição e de funcionamento dos partidos é que está em crise. No mínimo deveríamos começar por uma reforma política. A base deveria ser o financiamento público das campanhas. Enquanto continuar esse método de financiamento, na verdade os candidatos são das empresas, não são da população e muito menos dos partidos. O fato de os jovens se declararem apartidários não significa ‘apolíticos’. Pelo contrário, estão fazendo política na rua, disputando ideias. Eles estão dizendo que os partidos não fazem política. No fundo, só administram o poder público em benefício da classe dominante.
Folha: Sem lideranças, podem ocorrer mudanças significativas a partir dessas mobilizações?
Stédile: Acho que faz parte desse processo de renascença do movimento de massa. No início, surgem mobilizações sem muita organização, mas à medida que a população vai se envolvendo, vai dando forma. Vão surgir líderes desse processo e tenho esperança nele. Essas mobilizações vieram em boa hora e deve oxigenar a política brasileira. Vão obrigar os governos a tirar a cera do ouvido.
Folha: Você falou de problemas específicos que surgem da crise do capitalismo. A Reforma Agrária tão almejada pelo MST é um deles. Como está essa questão atualmente?
Stédile: Ela está paralisada e isso já há muito tempo. Os governos e o próprio capitalismo priorizou esse modelo do agronegócio e transformou tudo que tem na agricultura em mercadoria. Os fazendeiros só plantam aquilo que dá dinheiro. O que dá dinheiro é soja e gado. Hoje o Brasil virou um grande monocultor de cana, gado e soja. Estamos importando feijão da China, alpiste do Chile, e um monte de produtos alimentícios.
Folha: O MST achava que a reforma agrária seria feita com a chegada do PT ao poder?
Stédile: Tínhamos esperança que o governo Lula pudesse abraçar como prioridade, por conta da bandeira histórica do PT. Infelizmente a forma como o Lula ganhou as eleições, em aliança com setores da burguesia, a correlação de forças que se estabeleceram em dez anos, levou o governo a priorizar o agronegócio. Assim, a agricultura familiar ficou em segundo plano. Mas as consequências do agronegócio virão logo, logo. É um modelo que dá lucro para os fazendeiros, mas concentra a propriedade. Hoje 58% de todo o setor sucroalcooleiro está nas mãos de três multinacionais, a Cargill, Burgue e Shell. Estamos usando cinco litros de veneno por pessoa. Em São Paulo toda a farinha de milho no supermercado é transgênica. Atenção gringos! Nossa polenta corre risco.
Folha: O MST está ignorado pela mídia?
Stédile: Não só ignorado como combatido. Estão no mural da Globo portarias orientando que não se pode entrevistar alguém ligado ao MST. Nós ocupamos, em 15 de maio, o Ministério de Minas e Energia durante dois dias com 1,2 mil pessoas. O Lobão (Ministro Edison Lobão) fugiu para o Rio de Janeiro. Foi para o leilão do petróleo. Querem entregar um bem que pertence ao povo, mas ninguém deu procuração para o Lobão e a Dilma entregarem o petróleo às multinacionais. Ocupamos o Ministério para protestar, teve notícia disso? Não saiu uma linha. Não querem dar notícias da luta social para não servir de exemplo. Agora quebraram a cara, essa política pode esconder, esconder até que milhares vão para a rua.
Folha: A grande mídia se relaciona assim e o governo?
Stédile: Fez uma opção por conta da sua aliança de classes. Fez opção pelo agronegócio. Não sou eu que digo. A senadora Katia Abreu (PSD-TO), líder dos ruralistas, é sempre recebida pela Dilma e nós, petistas históricos, não. Temos vários senadores que nunca cumprimentaram a Dilma porque ela não recebe. De repente colocou o Pepe (Vargas) no MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário), mas com uma função subalterna. A prioridade do governo são as exportações de commodities. Isso pode deixar o governo bem com os fazendeiros, mas trará graves consequências.
Folha: O Pepe foi colocado para acalmar a relação anterior entre o MST e Ministério…
Stédile: Mas temos uma relação de autonomia, não vai adiantar botar ministro A ou B. O fim de qualquer movimento é quando vira subalterno a qualquer governo. Nós existimos há 30 anos porque mantemos essa política, autônomos de todos os governos, inclusive do Lula, que era mais amigo nosso pela trajetória de maior convivência.
Folha: E ainda assim a reforma agrária não foi bandeira dele…
Stédile: É. E o PT e MST surgiram juntos. O Lula ia às atividades, era uma relação de afinidade, mas a Dilma teve uma trajetória muito mais de tecnocracia. A política do governo não é de democratização da propriedade da terra. Os governos Lula e Dilma também não fizeram nada porque têm olhos para os fazendeiros. Esse modelo do agronegócio tem que ser revisto para disseminar a agricultura familiar.
Folha: O governo lança incentivos de créditos ao agricultor familiar.
Stédile: Mas não pensa um projeto para o Brasil. A pauta dos ministros em Brasília é sempre resolver problemas do dia a dia. Eles são gerentes do capital e não pensadores de um projeto de sociedade. Há letargia na sociedade e o governo é resultado. Mas algum dia vai mudar, está começando com esses jovens.

sábado, 22 de junho de 2013

CONVITE: Lançamento do Grupo de Trabalho de Acompanhamento da Implementação do Código Florestal da Frente Parlamentar Ambientalista de Sergipe

Com a aprovação do Código Florestal pela presidente Dilma Rousseff, a lei deve agora ser implementada e acompanhada pela sociedade. O lançamento do Grupo de Trabalho (GT) de Acompanhamento da Implementação do Código Florestal em Sergipe ocorre no dia 27 de junho (quinta-feira), às 14 horas, no Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Av. Ivo do Prado, s/n, Centro – Aracaju). Aberto ao público, o evento é uma realização da Frente Parlamentar Ambientalista de Sergipe, da Fundação SOS Mata Atlântica e da Associação Nacional de Órgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA).

A iniciativa é parte da Campanha Nacional de Acompanhamento da Implementação do Código Florestal, que visa sensibilizar e mobilizar a sociedade para que esteja atenta ao cumprimento do novo Código Florestal e para que participe do monitoramento de sua implementação, apoiando e estimulando ações ambientais da sociedade civil organizada, de órgãos públicos e da iniciativa privada.

“A exemplo do que fizemos com a Lei da Mata Atlântica, queremos levar essas discussões para os Estados, evitando que as decisões e debates aconteçam apenas em Brasília”, explica Mario Mantovani, diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica.  “A ideia é estimular a cidadania e o acompanhamento da Lei, em um processo descentralizado e participativo, e também reforçar o papel das Frentes Parlamentares Estaduais. Por isso, vamos incentivar o acompanhamento do Código Florestal nos Estados da Mata Atlântica”, diz ele.

Um dos temas que será abordado no evento é o Cadastro Ambiental Rural (CAR), uma ferramenta para tornar o processo de regularização ambiental dos imóveis rurais mais simples e ágil, e que está previsto como um dos mecanismos do Código Florestal aprovado.

O GT de Acompanhamento da Implementação do Código Florestal integra a Frente Parlamentar Ambientalista de Sergipe. A Frente tem como objetivo assegurar a discussão da agenda ambiental pelo Legislativo, bem como apoiar políticas públicas e ações governamentais e da iniciativa privada que promovam o desenvolvimento sustentável no Estado. As Frentes Parlamentares Estaduais são um desdobramento da Frente Parlamentar Ambientalista nacional, com atuação no Congresso. O Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista de Sergipe é o deputado João Daniel (PT).

O que: Lançamento do Grupo de Trabalho de Acompanhamento da Implementação do Código Florestal da Frente Parlamentar Ambientalista de Sergipe 
Quando: 27 de junho, às 14h 
Onde: Plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Av. Ivo do Prado, s/n, Centro – Aracaju). 
Informações:  Rejane Pieratti – (61) 8138-3000 / rejane.pieratti@gmail.com


sábado, 15 de junho de 2013

Na véspera da Copa, manifestação em Brasília bloqueia pista em frente ao Mané Garrincha


Representantes dos movimentos Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e da Resistência Urbana - Frente Nacional de Movimentos do Comitê da Copa paralisaram o trânsito no Eixo Monumental em frente ao Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília (DF), na manhã desta sexta-feira (14).
Os manifestantes incendiaram pneus ao longo da pista. O protesto faz parte da série de ações previstas para ocorrer em diversas cidades do país para questionar: Copa pra Quem? A desobstrução do eixo só ocorreu por volta das 11h. Em seguida, os manifestantes se dirigiram para a frente ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, onde aguardam para serem recebidos pelo secretário de Governo, Gustavo Ponce de Leon.
Amanhã (15), Brasil e Japão fazem o jogo de abertura da Copa das Confederações, no Mané Garrincha, às 16h. Representantes dos dois movimentos disseram que realizarão, durante toda a semana, uma série de atos públicos em cidades do país. Segundo eles, o objetivo é denunciar as violações de direitos humanos que estão ocorrendo em razão da realização da Copa das Confederações e do Mundial de Futebol de 2014, e das Olimpíadas, em 2016.
“Estamos protestando contra os abusos da Copa em Brasília. Essa Copa não é do povo brasileiro, é dos empresários, é da Fifa", disse Edemilson Paraná, da Resistência Urbana. O questionamento é o valor destinado pelo governo federal para viabilizar a realização da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

Calendário de atos em capitais do país
A Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop) e a Resistência Urbana realizarão outras manifestações Copa Pra Quem?, como a que aconteceu na manhã desta sexta-feira (14), em Brasília (DF).
Outros atos públicos acontecerão ainda nesta sexta-feira em São Paulo (SP), na avenida Paulista. Em Porto Alegre (RS), está previsto um ato público, às 19h, no Largo Glenio Peres.
Em Palmas (TO), a previsão é que manifestantes se concentrem na principal avenida da cidade, a Juscelino Kubitschek, a partir das 16h. O calendário estabelecido pelo comando dos dois movimentos preveem atos públicos do Copa Pra Quem? em Teresina (PI) e Boa Vista (RR).
Eles planejam, ainda, outra manifestação no sábado (15), às 10h, em Brasília (DF), onde se concentrarão na rodoviária da capital e na feira próxima a Torre de TV.
Neste sábado os manifestantes se reunirão, também, no Rio de Janeiro (RJ), a partir das 9h , no Quilombo da Gamboa. Na capital fluminense, está prevista a “Copa Popular - Contra as Remoções”. A ideia é integrar as comunidades ameaçadas de remoção na cidade.
Na capital mineira, os representantes dos dois movimentos realizam desde quinta-feira (13) o Segundo Seminário do Comitê Popular dos Atingidos pela Copa de Belo Horizonte (MG). O encerramento está previsto para sábado com uma um jogo de futebol de rua.
Foto: Marcello Casal Jr./ABr