quinta-feira, 25 de julho de 2013

15 mil Sem Terra marcham por Reforma Agrária em Sergipe

Nesta quinta-feira (25\07), Dia do Trabalhador Rural, 15 mil acampados e assentados do Movimento Sem Terra, vindos de todo o estado de Sergipe, estão realizando uma grande Marcha cobrando a Reforma Agrária.
Os Sem Terra saíram pela manhã da BR 101, entrada de Aracaju e estão percorrendo as principais ruas da capital.
Há uma década que o MST celebra o dia 25 de Julho com grandes mobilizações no estado. Segundo Gileno Damascena, dirigente nacional do MST: “Estamos cobrando um novo convênio de terras, que possa agilizar o processo de Reforma Agrária no estado, porque as desapropriações de terras foram muito aquém das necessidades das famílias acampadas. Também cobramos do governo melhoras na infraestrutura dos assentados, especialmente na questão das habitações.” Outro problema pautado pelo MST é o endividamento dos assentados e o acesso difícil ao crédito.
Na entrada de Aracaju, os integrantes do MST pararam em frente à Companhia de desenvolvimento hídrico de Sergipe (COHIDRO), órgão que foi ocupado esta semana durante três dias por 250 famílias do MST dos acampamentos Tingui e Mario Lago, na região metropolitana do estado, reivindicando a federalização do perímetro irrigado Jacarecica II.
Mais de 600 famílias Sem Terra estão acampadas na área, entre elas, as 220 famílias que estão ocupando a fazenda Tingui há 17 anos. Hoje, estas famílias estão ameaçadas por uma liminar de despejo. Segundo Gileno Damascena: “Este conflito precisa ser resolvido. Para isto, é necessário que o governo do estado repasse o perímetro ao governo federal, para que possa indenizar os empresários e assentar as famílias. Hoje, todos os lotes empresariais na área estão dedicados à monocultura de cana e pecuária extensiva. Não se produz alimentos e desenvolvimento, só cana para as usinas da região”.
A atividade será encerrada com concentração e ato público na Praça General Valadão, centro da capital.









terça-feira, 23 de julho de 2013

MST ocupa Companhia de desenvolvimento de recursos hídricos em Aracaju (SE)



Na manhã desta terça-feira (23/07), cerca de 200 famílias do MST ocuparam a sede da Companhia de desenvolvimento de recursos hídricos (Cohidro) do estado de Sergipe, na capital Aracaju. A ocupação segue por tempo indeterminado.
As famílias são oriundas dos acampamentos Santa Maria, Mario Lago e Tingui, na região metropolitana do estado. O acampamento Tingui, que conta 220 famílias, é o mais antigo do estado de Sergipe, com 16 anos de ocupação.
As famílias Sem Terra reivindicam que os 12 lotes empresariais do perímetro irrigado Jacarecia II sejam desapropriados para fins de reforma agrária e destinados à agricultura familiar. “Estamos aqui, ocupando a Cohidro, para cobrar a federalização do projeto de irrigação, para assentar cerca de 600 famílias” ressaltou Gileno Damascena, da direção nacional do MST.
O complexo irrigado Jacarecica II está situado às margens do Rio Jacarecica, abrangendo os municípios de Malhador Areia Branca e Riachuelo. O perímetro irrigado estava, na sua origem, destinado a famílias de pequenos agricultores. Mas uma grande parte dos lotes foi entregue a empresários que cultivam a monocultura de cana-de-açúcar.
Além da federalização do Jacarecia II, o MST cobra também a Reforma Agrária e o assentamento imediato de todas as famílias acampadas no estado. Dia 25 de Julho, o MST organizará uma grande Marcha pela Reforma Agrária em Sergipe.


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Famílias do MST lutam para uma produção sustentável no Sertão de Sergipe

No último domingo (21/07), o clima era de festa no assentamento Cachoeirinha. A Associação da Agrovila I do assentamento do MST, situado no município de Gararu (Alto Sertão de Sergipe), comemorou a conclusão de um importante projeto produtivo financiado pela Petrobras e realizado em parceria com a Fundação Dom Helder Câmara.
O projeto, que durou quatro anos, tinha como objetivo garantir a sustentabilidade da produção de leite, uma das principais fontes de renda dos agricultores na região. As famílias melhoraram a qualidade do leite através de técnicas de inseminação artificial, desenvolveram a produção de plantas forrageiras (com o plantio consorciado de milho, sorgo e gliricídias, destinadas à alimentação do rebanho leiteiro) e construíram silagens para estocar os produtos até a época da seca.
Os recursos do projeto permitiram também a construção de uma sede para a associação e a compra de três veículos (duas motos e uma caminhonete) para apoiar as atividades produtivas.
Uma história de luta
Para o presidente da associação e dirigente do MST na região, Seu Humberto Vila dos Santos, a conclusão do projeto representa mais uma conquista, oriunda de uma longa história de luta: “O meu primeiro acampamento foi em 1995, quando ocupamos, com mais de 2000 famílias Sem Terra, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), no município de Canindé de São Francisco (SE). Depois, passei por mais três acampamentos no Alto Sertão de Sergipe, lutando durante cinco anos para ter o meu pedaço de terra.”
Em 2000, o MST conquistou a fazenda Cachoeirinha, propriedade de uma família de latifundiários do estado. 99 famílias foram assentadas no local. O fato de ter um pedaço de terra mudou radicalmente a vida de Seu Humberto: “Antes, trabalhava como empregado para fazendeiros, com um salário muito baixo. Era uma vida difícil, sem perspectiva de crescer. Hoje, consegui meu espaço, posso produzir alimentos para o consumo da minha família e para venda.”
Diversificar a produção
Para desenvolver a produção no Cachoeirinha, Seu Humberto e as famílias assentadas tiveram que aprender a conviver com o clima semiárido característico do Alto Sertão. “A seca é um problema terrível. Nós sempre preparamos um estoque de comida para seis meses. Mas nos anos passados, os períodos de estiagem foram prolongados.” Para enfrentar o problema, o agricultor tem que melhorar a qualidade e diversificar a produção. Na região, as atividades agropecuárias tradicionais são o cultivo do milho, da palma e o gado leiteiro. Além disto, Seu Humberto cria ovelhas e galinhas, que garantem um recurso em caso de necessidade, e cultiva uma horta agroecológica na qual planta cenouras, couve, frutas, tomates e coentro. Uma parte da produção é consumida pela família, outra é destinada à merenda escolar no município de Gararu. Segundo o assentado, o processo agroecológico é de fundamental importância para o assentamento: “É assim que se produz uma alimentação de qualidade para o consumo da sua família e da sociedade.”
Coletivo de Comunicação – MST Sergipe, 22/07/2013











terça-feira, 16 de julho de 2013

A crise e a dívida pública

Frei Betto, 15/07/2013
Você, eu, todos nós pagamos a dívida pública ao receber salário e consumir. E pagamos ou padecemos ao não receber melhores serviços público. 
Desde de 2008, quando estourou a crise do capitalismo, os governos afetados fazem das tripas coração para salvar, não a população ameaçada de desemprego (já são 25 milhões de desempregados na Europa), e sim o sistema financeiro.
Democracia é, hoje, mera expressão retórica. O que temos, de fato, é uma moneycracia.
Segundo o FED (Banco Central estadunidense), o governo de Tio Sam repassou aos bancos privados, como boia de salvação, US$ 16 trilhões. Como a lista é longa, assinalo aqui a gordura do Papai Noel dos três principais beneficiados nos EUA: Citigroup, US$ 2,5 trilhões; Morgan Stanley, US$ 2,04 trilhões; Merrill Lynch, US$ 1,949 trilhão.
No Brasil, a crise começa a bater à porta. Onde a porca torce o rabo é na dívida pública. Em 2011, juros e amortizações da dívida consumiram 45,05% do orçamento da União, ou seja, R$ 708 bilhões. Você imagina o quanto se poderia fazer com tamanho recurso? Daria para promover 28 Copas do Mundo! A Copa de 2014 está orçada em R$ 25 bilhões. Para se ter ideia desse dinossauro que sustentamos, no mesmo ano de 2011 a Saúde mereceu 4,07% do orçamento e a Educação 2,99%.
Se os dados acima impressionam, veja os atualizados: de janeiro a fevereiro deste ano a dívida pública subiu mais R$ 26 bilhões, atingindo R$ 1,95 trilhão! E a previsão é de que alcançará a cifra de R$ 2,24 trilhões até o fim do ano! Isso significa mais R$ 232 bilhões em relação ao montante da dívida em 2012. Os dados são do Plano Anual de Financiamento do Tesouro Nacional, divulgados em março.
Você, eu, todos nós pagamos a dívida pública ao receber salário e consumir. E pagamos ou padecemos ao não receber melhores serviços públicos: Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Cultura etc.
O governo não divulga o montante dos juros nominais da dívida pública efetivamente pagos. Nem a CPI da Dívida, encerrada em 2010 na Câmara dos Deputados, quebrou o lacre desse segredo. Daí a importância de uma Auditoria Cidadã da dívida pública. Meta que deveria constar da pauta de partidos progressistas, sindicatos, movimentos sociais e ONGs voltadas à cidadania.
Os sinais de que a marolinha brasileira pode terminar em tsunami estão à vista: privatização das jazidas do pré-sal, de portos, aeroportos e hospitais universitários; menos recursos aos programas sociais; leilões de rodovias; inflação em alta etc.
O modelo desenvolvimentista está esgotado. O resultado dele é nefasto: 1% de habitantes do planeta concentra, em mãos, riqueza equivalente à renda de 57% da população mundial!
Mas quem de fato articula alternativas viáveis? Cadê a esquerda com os pés na base popular e a cabeça na formulação de estratégias a longo prazo?
“Naquele tempo nós fizemos História; agora vocês fazem política”, diz o personagem Rubashov no romance O zero e o infinito, de Arthur Koestler.


quinta-feira, 11 de julho de 2013

MST luta por reforma agrária durante Jornada de Luta

Texto:G1 Sergipe.
Fotos: Coletivo de Comunicação - MST

Integrantes do Movimento Sem Terra (MST) estão participando dos movimentos sindicais que estão sendo realizados nesta quinta-feira (11) no Dia Nacional de Lutas em Sergipe. De acordo com um dos diretores do movimento em Sergipe, Esmeraldo Leal, o MST realizou 13 paralisações e encerra os atos durante a passeatada que está sendo realizada nas ruas da capital.

“Nosso foco foi em Itaporangaa, Japaratuba, Carmópolis, Nossa Senhora da Glória e Cristiáapolis e agora seguimos na passeata encerrando nossos protestos. Lutamos pela reforma agrária do acampamento mais velho de Sergipe que tem 16 anos e fica localizado entre os municípios de Malhador e Ricahuelo”, explica.

Ao todo existem 11mil famílias distribuídas em 120 acampamentos que aguardam pela reforma agraria. “Somos a favor do plebiscito e contra o referendo. O plebiscito vai beneficiar Sergipe e o Brasil. O plebiscito é uma radiografia do que o povo pensa e deseja”, garante Rubens Marques de Souza, presidente da CUT.

Os movimentos sindicais que foram iniciados desde as primeiras horas desta quinta-feira (11) em diversos pontos de Sergipe, seguem nesta tarde em Aracaju, no Dia Nacional de Lutas. Por volta das 15h dezenas de servidores públicos já se aglomeraram na Praça Fausto Cardoso, no Centro, onde a concentração foi realizada. De lá, seguiram em passeata pelas avenidas Ivo do Prado, Barão de Maruim e Beira Mar.







Trabalhadores rurais fecham rodovias em Sergipe



Na manhã desta quinta-feira (11/07), milhares trabalhadores rurais bloquearam BRs e rodovias estaduais do estado de Sergipe. As mobilizações são organizadas pelo MST e movimentos sociais do campo e da cidade.
Os manifestantes fecharam vários pontos da BR 101 a partir das 9 horas da manhã, nos trechos das cidades de Japaratuba, Itaporanga D´Ajuda, Carmópolis, Cristinápolis e Japoatã.
A BR 235 foi fechada nos trechos de Carira e Indiaroba.
Em Aracaju, dezenas de manifestantes que pertencem ao Movimento Organizado dos Trabalhadores Urbanos (MOTU)  interditaram os dois sentidos da ponte que liga a capital Aracaju à Barra dos Coqueiros.
Na Região Sertão, cerca de 500 militantes do MST e do MPA fecharam a rodovia estadual SE 235, na saída da cidade de Nossa Senhora da Glória, durante quarenta minutos. Os manifestantes seguem em manifestação na cidade de Nossa Senhora da Glória.
 “Nós trabalhadores rurais apoiamos as mobilizações que vêm acontecendo no Brasil. Precisamos nos juntar a este movimento e pautar as reivindicações dos trabalhadores do campo, cobrando a reforma agrária imediata no país”, ressaltou José Borges Sobrinho, da direção estadual do MST. No estado de Sergipe, mais de 8000 famílias Sem Terra estão acampadas, algumas há mais de dez anos.
A partir das 14 horas, as centrais sindicais, os movimentos sociais e o MST se juntarão para uma grande mobilização na capital, Aracaju.
As mobilizações fazem parte da Mobilização nacional organizada em todo país pelos movimentos sociais e sindicais para defender uma plataforma política comum dos trabalhadores, com a redução da jornada de trabalho, investimentos de 10% do PIB para saúde e educação, transporte público gratuito e de qualidade, a democratização dos meios de comunicação e a realização da Reforma Agrária.
Em Sergipe, as mobilizações vão continuar durante todo o mês. No dia 25 de Julho, o MST-Sergipe organizará uma grande Marcha reivindicando a Reforma Agrária.




quinta-feira, 4 de julho de 2013

Paralisação nacional por reformas e mudanças

DESDE A CAMPANHA das Diretas Já, na década de 1980, não tínhamos mobilizações de rua tão vigorosas. Os protestos que eclodiram pela indignação da juventude frente a diversos fatores já analisados por nosso jornal serviram para provocar muitas mudanças na política brasileira.
O governo Dilma teve que sair de seu pedestal e veio dialogar com as ruas propondo uma reforma política,
uma constituinte e um plebiscito popular. E, finalmente, passou a se reunir com todos os setores organizados. Coisa que não havia feito ao longo de seus dois anos e meio de mandato!
As elites, através da Rede Globo tentaram controlar as ruas e dar uma pauta direitista. Tampouco conseguiram. Sobrou-lhes o papel de atiçar uma polícia despreparada e seguir infiltrando grupos fascistas e serviços de inteligência das polícias para provocar violência e descaracterizar o movimento. Também, tampouco conseguiram. Quanto mais reprimem, mais o povo fica revoltado.
A Rede Globo se achava a portavoz do povo. Ledo engano. Mal consegue enganar os televidentes das
novelas. A juventude nas ruas teve um só ponto unitário: fora a Rede Globo!
Agora, chegou a vez do povo organizado nos movimentos sociais, nas pastorais e no movimento sindical.
Pela primeira vez, depois da derrota de 1989, não se via uma unidade popular tão ampla. Nos últimos dias, diversas plenárias nacionais uniram partidos de esquerda, todos, todas as centrais sindicais, e mais de 77 movimentos sociais organizados. E desse clima de unidade tirou-se uma plataforma políticacomum, que extrapola a luta pelo transporte público gratuito e de qualidade e avança para as reformas estruturais que a classe trabalhadora precisa e luta há muito tempo. Todos os setores organizados da classe se uniram.
Há uma prioridade que é fazer a reforma política, que abarque desde a exclusividade do financiamento público de campanha até o direito da população de convocar plebiscitos populares sobre qualquer tema, com um por cento dos eleitores. Portanto, precisamos lutar pelo plebiscito popular e pela realização de uma constituinte que possam avançar ainda mais nas reformas estruturais que a sociedade brasileira precisa.
E, para pautar todos esses temas entre a classe trabalhadora, foi marcado o 11 de julho como um dia na-cional de luta. Precisamos nos organizar, nos mobilizar, e transformar essa data numa grande mobilização
popular, que consiga brecar os setores conservadores na mídia, no Judiciário e no Congresso. E pressionar o governo para que tenha coragem de avançar ainda mais, e conseguir de fato, mudanças na melhoria das condições de vida de toda população.
Precisamos, desde logo, apoiar a organização de comitês populares, em cada bairro, em cada setor
social, em cada município de todo o Brasil, para organizar a mobilização e seguir a frente organizando o processo de consulta no plebiscito popular a ser convocado.
Assim, fazer com que nossa voz se transforme em novas leis – seja pelo atual Congresso seja por uma fu-
tura constituinte. Por isso, o Brasil de Fato, como humilde porta-voz dos interesses do povo, e fiel aos movimentos sociais que o sustentam, quer contribuir para estimular a que todos os setores sociais
se organizam da melhora forma possível, para fazermos grandes mobilizações sociais, em todo o território
nacional.


Dia 11 é dia de todo o povo ir para a rua e lutar por mudanças econômicas e sociais para o Brasil.
Vamos à luta, que somente lutando melhoraremos as condições de vida de todo o povo.


Texto retirado do Brasil de Fato número 540, 4 a 10 de Julho de 2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

"Protestos retomam as ruas como espaço de fazer política", afirma Stedile

O economista João Pedro Stedile, 59, líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), afirma que é preciso aproveitar a onda de protestos para criar novos mecanismos de participação popular nos destinos do país.
Caso contrário, diz, "as mobilizações voltarão com mais força e mais radicais".
Segundo ele, a rejeição dos jovens manifestantes aos partidos é normal. "Qualquer pessoa que assiste todos os dias a forma como agem os partidos fica indignada."
A seguir, trechos da entrevista, feita por e-mail, a pedido do líder dos sem-terra.
Folha - Que balanço o sr. faz das manifestações?
João Pedro Stedile - Foram muito positivas, porque trouxeram a juventude de volta às ruas. Estão oxigenando a política, inclusive, nos salões palacianos e no Congresso. No início, foram motivadas pela indignação de uma parcela da juventude e pela esperteza do Movimento Passe Livre, que se aproveitou desse sentimento para mobilizar. Teve a contribuição da visão medíocre do governo Alckmin, que, acostumado a baixar o pau na população, como fez em outros despejos, conseguiu jogar gasolina nos protestos.
Elas são um divisor de águas? O que muda a partir de agora?
Desde as "Diretas-Já", não tínhamos mobilizações tão expressivas e em todo país. Por isso, elas são de fato uma retomada das ruas como espaço de fazer política. No entanto, o que vai acontecer daqui para diante ainda está em disputa. A direita quer apenas pautar temas atrasados ou de pouca relevância, para que não tenha mudança nenhuma e para apenas desgastar o governo Dilma e colher os frutos na eleição de 2014.
De parte da classe trabalhadora, há necessidade dela também vir para a rua e colocar em pauta as reformas econômicas e políticas, que os governos Lula e Dilma não tiveram capacidade de fazer pelas alianças partidárias esdrúxulas dentro de um sistema político que precisa de uma profunda reforma.
Quais atores ganham e quais perdem com esses protestos?
Quem perdeu foram aqueles que fazem política tradicional, conservadora, reacionária, de tudo ser no toma lá, dá cá. A Rede Globo, que se achava toda poderosa, perdeu, porque a única palavra de ordem que unificou a juventude em todo país foi "fora, Rede Globo", uma vez que a juventude tem se informado pela internet e pelas redes sociais, não dando bola para televisão. Quem ganhou foi a juventude e o povo brasileiro. Tomara que o governo Dilma acorde e se sintonize cada vez mais com os interesses da população.
Como interpreta os protestos que terminaram em violência?
Ninguém de sã consciência vai para uma passeata para ter violência. Esses episódios sempre ocorrem com a conjugação de vários fatores. Primeiro, o despreparo da Polícia Militar, que sempre trata o povo como inimigo, apesar de cada um dos soldados ser gente do povo. Onde houve diálogo da PM com os manifestantes não houve violência. Segundo, houve grupos fascistas, em especial em São Paulo e no Rio, que planejaram e foram para as passeatas para gerar caos e pânico.
O sr. acredita que, em meio ao quebra-quebra, exista o ingrediente da revolta da população mais excluída, e não ações de vândalos simplesmente?
Não acredito que a população indignada use a violência. O povão gosta de xingar, dizer nome feio, mas é contra o uso de violência, de quebra-quebra e saques. Nessas situações, o povo respeita o patrimônio público.
Como o sr. avalia essa rejeição aos partidos em meio aos protestos? É uma rejeição "a" partidos ou especificamente a "esses" atuais partidos?
Essa juventude nasceu durante a implementação do neoliberalismo, na década de 90, e rejeita a forma de fazer política a partir desse período. Ela não é apolítica nem contra a organização partidária. Mas qualquer pessoa que assiste todos os dias a forma como agem os partidos fica indignada com a submissão às grandes empresas, as trocas de votos por emendas, as disputas por cargos, as disputas internas nos partidos.
Precisamos urgentemente mudar a forma de fazer política no Brasil e enterrar essas práticas. Por isso, a reforma política é fundamental. É fundamental, em meio a essas mobilizações, criar novos mecanismos de participação popular nos destinos do país. Se não houver mudanças nesse sentido, tenho certeza que as mobilizações voltarão com mais força e mais radicais.
Movimentos sociais, indígenas e sindicatos têm reclamado da falta de diálogo com o governo Dilma. O governo tem falhado? Por quê?
O governo Dilma é um governo de composição de classes. Infelizmente, no último período, o governo tem priorizado apenas os interesses da burguesia e relativizado os interesses da classe trabalhadora. Basta ver a pauta que o governo prioriza. De um lado, propõe leilões de petróleo, liberação de outorgas de mineração para o grande capital, terceirização dos direitos trabalhistas, dinheiro do BNDES para grandes empresas. Para a classe trabalhadora: pão e água.
A reforma agrária está paralisada, a legalização das áreas indígenas e quilombolas está paralisada e, em alguns casos, essas disputas são tratadas com repressão, como a Policia Federal fez em Mato Grosso do Sul. É claro que, uma hora dessas, essa contradição de classes estoura no governo ou nas ruas.
Esse diálogo piorou em relação ao governo Lula?
Não é uma questão de diálogo. Diálogo você pode ter o tempo inteiro. O problema é a disputa de interesses de classe e força de cada classe para pressionar o governo. Até agora, os empresários tinham mais força no governo. Agora, espero que a voz das ruas represente uma força popular que faça o governo implementar políticas a favor da classe trabalhadora.
O MST defende o "volta Lula"?
O governos são apenas espelho da correlação de forças na sociedade. Nós defendemos um projeto popular para o país. O que o Brasil precisa é debater na sociedade um projeto que represente a soberania nacional e popular para resolver os problemas do povo. Não podemos mais aceitar um país rico, que é a sétima economia do mundo, com tanta desigualdade social. Com salários tão baixos, sem democratizar a terra e os meios de comunicação.
O povo vive em moradias com condições ruins, gasta 40% da renda com aluguel, não têm transporte público de qualidade, não tem atendimento de saúde, padece nas filas do SUS e os filhos não aprendem nas escolas públicas. Enquanto isso, o capital estrangeiro vem aqui explorar o nosso petróleo, nossos minérios, nosso etanol e nossa agricultura, aliados com uma burguesia brasileira submissa, que nunca pensou o Brasil como nação.
As cidades estão fervendo e o campo parece adormecido, com exceção dos indígenas. Quais as razões para isso?
Nas grandes cidades, há uma crise urbana instalada pela especulação imobiliária que elevou em 150% os preços dos imóveis e terrenos nos últimos três anos. Não há transporte público de qualidade e falta atendimento de saúde e educação. Há uma grande aglomeração de pessoas nesse inferno do cotidiano, então a juventude resolveu enfrentar e dar um tapa no diabo.
Mas a classe trabalhadora ainda não se mexeu. Já no campo, estamos ainda sofrendo o refluxo do movimento de massas, que vem desde 2005, pela hegemonia do capital, que tomou conta da agricultura e impôs o modelo do agronegócio. Mas suas contradições e consequências começam a aparecer. Ou seja, a concentração da propriedade da terra, das usinas, da produção em apenas três produtos (soja, cana e gado) começa a aparecer. Logo outros setores da população do campo começarão a se mexer.
Como economista, como vê as recentes ações do governo diante de inflação pressionada e PIB estagnado?
O que está acontecendo é resultado de uma economia cada vez mais dependente do capital internacional. O Brasil está cada vez mais refém das politicas dos governos centrais e da ação do capital internacional sobre a economia. Por outro lado, o governo federal com sua composição de classes não tem forças e unidade suficiente para implementar políticas econômicas nacionalistas, que protejam nosso trabalho e nossa riqueza, porque também não tem um projeto claro de país.

Por Eduardo Scolese, da Agência Folha, 2 de julho de 2013.