O município de Nossa Senhora da Glória, no
Sertão de Sergipe sofreu com a forte tempestade do último domingo (3).
No assentamento Adão Preto, onde 105 famílias do MST conquistaram a
terra há três anos após 11 anos de luta, ventos fortes e chuvas de
granizo deixaram rastros de destruição.
Seis casas foram completamente derrubadas; muitas outras tiveram o
telhado destruído; boa parte da produção foi prejudicada, comprometendo a
renda dos agricultores: os cultivos de milho foram deitados pela força
do temporal, e boa parte da ração preparada para alimentar os animais
durante o longo verão sertanejo foi molhada e perdida.
Maria Augusta de Jesus estava no barraco da irmã
quando iniciou a tempestade. “A chuva começou a cair muito forte", conta
a assentada. "Ficamos dentro da casa, e as paredes começaram a tremer
por conta do vento, que era muito forte. Graças a Deus, a casa não
caiu.”
Todos não tiveram a mesma sorte. A moradia de José
Walter dos Santos, um barraco de alvenaria que ele tinha construído com
as próprias mãos, foi totalmente destruído pelo temporal. José só teve o
tempo de sair do barraco para salvar sua vida. Os seus pertences e o
mobiliado foram destruídos. No momento da nossa visita, José já estava
trabalhando para erguer novamente a sua casa.
O barraco do assentado Jurguta Jaqueira de Souza
foi também levado pelos ventos. "Perdi sofá, cadeira, cama. Não ficou
nada." O prejuízo foi ainda maior na roça: Augusto perdeu mais da metade
da sua produção de milho.
Além das forças da natureza, Augusto aponta a falta
de infraestrutura no assentamento como causa da tragédia: "Ainda
estamos vivendo sem casas de qualidade. Os poderes públicos demoram
demais para atender às nossas necessidades."
Cleosvalda Maria Goes Santos, da direção estadual
do MST, confirma esta análise: "a natureza não é a única culpada. Vamos
completar três anos de assentamento, já estamos produzindo nos lotes,
mas ainda não temos moradia digna, não temos energia, nem água para
beber. Por conta desta situação, uma parte dos assentados construiu um
salão de alvenaria, outra ainda mora em barracos de lona. Essas são as
condições que levaram ao desmoronamento das casas."
Para a dirigente, existe um descaso por parte do
poder público. "Se os governantes tivessem viabilizado a construção das
casas neste assentamento, que é o maior da região de Glória, esta
tragédia não teria acontecido".
O problema não se limita ao assentamento Adão
Preto. "Em todo o estado ainda falta habitação rural dentro dos
assentamentos que foram conquistados a partir do ano 2010."
Para resolver a situação, o MST reivindica a
construção com urgência de habitações de qualidade, assim como o acesso e
a energia e a água em todos os assentamentos do Estado.
No Adão Preto, o sonho de uma casa própria de
qualidade poderia virar realidade nos próximos meses. Segundo
Cleosvalda, 32 famílias já aderiram a um projeto de construção de casas
por meio do programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Mas por hora, a prioridade esta na reconstrução dos barracos derrubados pelo vento, e à ajuda às famílias que mais perderam.
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