Cerca de 200 pessoas, oriundas de
movimentos sociais, sindicatos e partidos políticos participaram do primeiro
Encontro dos Amigos do MST em Sergipe, que aconteceu nesta quinta-feira (27/03)
no Centro de formação Canudos, situado no assentamento Moacir Wanderley
(povoado Quissamã).
O encontro iniciou com o
testemunho de Guido Michel, militante histórico do MST em Sergipe: “Cheguei ao
Brasil em 1964. Hoje, aos 75 anos, continuo na luta, trabalhando no
assentamento Barra da Onça, no Sertão de Sergipe. Nesta luta, é importante
valorizar todas as nossas companheiras e companheiros.”
Em seguida, João Pedro Stedile,
da direção nacional do MST, fez o resumo, para os participantes, do conteúdo
dos debates realizados com a base do MST ao longo dos dois últimos anos,
sintetizados no VI. Congresso do MST.
“No início da sua história, o MST
lutava apenas por terra, enfrentando o latifúndio atrasado. Reivindicamos uma
Reforma Agrária Clássica, distribuindo a terra para as famílias camponesas e
desenvolvendo um mercado interno para a indústria. Hoje, a agricultura
brasileira mudou. Estamos enfrentando o capital financeiro que comprou terras,
água e usinas no Brasil para se proteger da crise econômica mundial. No estado
de São Paulo, três empresas multinacionais compraram 58% da cana-de-açúcar e
das usinas”, disse.
Segundo Stédile, os presidentes
Lula e Dilma montaram governos de composição de classes, que não tem força para
realizar reformas estruturais. Ao mesmo tempo, a burguesia controla o
Congresso, através do financiamento das campanhas eleitorais, o poder
judiciário e a grande mídia. “Hoje, a rede Globo é o quarto poder no Brasil.
Eles falam mal de nós o tempo todo, para que o povo brasileiro olhe as nossas
mobilizações com ódio”, afirmou.
Este cenário exige, por parte dos
movimentos sociais do campo, uma mudança de paradigma. “Não podemos lutar só
por terra. Lutamos para produzir alimentos saudáveis, através dos princípios da
agroecologia. Lutamos para trazer agroindústrias, emprego e desenvolvimento no
campo. E lutamos para educação, porque só o conhecimento liberta realmente o
ser humano”, ressaltou Stédile.
De acordo com o dirigente, a
força dos Sem Terra não é suficiente para impor este modelo alternativo ao
agronegócio. “Precisamos nos aliar com os movimentos sociais do campo e da
cidade. Temos que combinar a nossa luta com a luta de massas na cidade. Cada
mobilização dos jovens, cada mobilização dos trabalhadores na cidade fortalece
a Reforma Agrária. Por isto, a nossa luta é para uma Reforma Agrária Popular.”
Stédile apontou também uma alteração
na conjuntura da luta de classe no Brasil: “Existe um clima novo, que indica um
processo de retomada do movimento de massas no país.”
A análise foi seguida por um
debate, no qual se expressou a variedade das forças políticas e sociais
apoiando a luta pela Reforma Agrária em Sergipe. Na saída, os participantes
puderam saborear produtos da reforma agrária.
Participaram ao ato militantes do
MST, representantes do movimento estudantil, do Levante Popular da Juventude,
do movimento Hip-hop, da Universidade Federal de Sergipe (UFS), do Movimento
dos Pequenos Agricultores (MPA), do movimento quilombola, da Federação dos
trabalhadores na agricultura de Sergipe (Fetase), do Movimento dos
trabalhadores urbanos (MOTU), do Incra, do MDA, da Assistência técnica e social
(ATES), e dos partidos políticos.
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