quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A conjuntura agrária em Sergipe (1992-2011)



 

A revista do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos da reforma agrária da Universidade estadual paulista (Unesp) publicou no mês de outubro os resultados de uma pesquisa importante sobre a questão agrária no Estado de Sergipe, realizada pelos pesquisadores do Dataluta Sergipe, projeto de banco de dados sobre a conjuntura agrária no Estado, construido no Laborátorio de Estudos Urbanos e Rurais da Universidade Federal de Sergipe.

Segundo os pesquisadores, a estrutúra fundiária no Estado de Sergipe “continua classificada no patamar concentrada”. De acordo com as estatísticas do INCRA, no princípio de 2011 “82.635 imóveis rurais estavam cadastrados e ocupavam uma área total de 1.832.572 hectares (ha). Deste universo, as grandes propriedades rurais, que configuram 72 imóveis rurais (ou 0,09% do total dos imóveis), controlam 7,8% da área cadastrada, num total de 133.361,7 ha enquanto 3.236 imóveis, considerados de dimensão mediana, controlam 748.044,7 ha, que representa 40,82% da área cadastrada. Por sua vez, os imóveis pequenos, que sumam 79.327, ou 96,6% do total declarado, espremem-se em apenas 951.165,7 ha, que representa 51,9% da área cadastrada”.
Megapropriedades e minifúndio
A pesquisa aponta a existência de 22 megapropriedades, dominando 7,8% do território sergipano: 6 fazendas controlam entre 2000 e 2500 ha no Estado, 5 fazendas entre 2500 e 5000 hectares, e um mega imóvel controla 6.111,9 ha.
Do outro lado, os imóveis cuja extensão territorial é inferior a 50 ha (minifúndios) representam 91,14 % do total, ou 75.321 imóveis, cubrindo apenas 36,65% da área cadastrada. A predominância desses imóveis “é um dos fatores predominantes da permanência dos cenários de pobreza e fome no campo sergipano.”
A terra é concentrada
Entre 1992 e 2011, houve um crescimento da área cadastrada em Sergipe de 828.899,6 ha, assim como um aumento do número total de imóveis, passando de 36.323 a 82.635. O minifúndio (130,84%), a pequena propriedade em geral (130,86%) e a média propriedade (82,62%) tiveram o aumento mais significativo.
O Programa nacional de Reforma Agrária e o crédito fundiário tiveram um papel importante no crescimento das pequenas propriedades: de 1992 a 2011, o Programa nacional de Reforma agrária arrecadou 159.763 ha de latifúndios improdutivos; entre 2001 e 2011, o crédito fundiário financiou a compra de grandes o médias propriedades, englobando 38.001 ha.
Os pesquisadores apontam uma outra dinâmica territorial frequente no Estado: “o parcelamento de grandes propriedades  para criação de vários imóveis de tamanho médio, cujos proprietários legais passam a ser os próprios membros da família do grande proprietário”. Essa dinâmica tem por objetivo de impedir o avanço da reforma agrária.
O número de grandes imóveis cresceu só 2,86% mas, em números absolutos, a área ocupada pelas grandes propriedades aumentou de 10.053,3 ha entre 1992 e 2011.
Segundo os autores da pesquisa, “esses dados conduzem à refutação do discurso hegemônico da superação da concentração da terra em Sergipe.”
O agronegócio em Sergipe
O estudo aponto também o avanço do agronegócio no Estado de Sergipe. Este avanço se concretiza em quatro setores:
- O setor sucroalcooleiro incorporou nos últimos anos terras localizadas na Zona da mata, Agreste e Sertão, nos vales do rio Sergipe, Cotinguiba, Japaratuba e Baixo São Francisco.
- No segmento do agrodiesel, a ação da Petrobras Biocombustíveis “difundiu a produção do girassol, monopolizando o território camponês.”
- No município de Itaporanga D’Ajuda (a 29 kilómetros da capital Aracaju), a instalação de uma fábrica de papel e celulose provocou a expansão do monocultivo de eucalipto e a subsequente intensificação da expropriação de pequenos produtores.
- Na região Sul do Estado, as corporações da indústria do suco de laranja monopolizam a produção de laranja e cítricos.
União dos movimentos camponêses
Frente a esta conjuntura, a pesquisa ressalta a importância da resistência dos movimentos sociais ao avanço do agronegócio no campo sergipano. Ela destaca a realização da 1ª Conferência camponesa no Estado, nos dias 8,9 e 10 de agosto de 2012, que elaborou “uma plataforma concreta de construção da unidade na diversidade para enfrentamento ao capital”, como um passo fundamental nesta luta.

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