Por Ednubia Ghisi
Do Terra de Direitos
Do Terra de Direitos
Em julgamento histórico, júri popular condena o ruralista Marcos
Prochet a 15 anos e nove meses de prisão por homicídio duplamente
qualificado, por recurso que impossibilitou a defesa da vítima e
ocultação da prática de outros crimes. O julgamento terminou por volta
das 22h, com a presença de mais de 200 pessoas, na 2ª Vara do Tribunal
do Júri, em Curitiba/PR.
A viúva o filho de Sebastião Camargo, assassinado há 15 anos,
acompanharam todo o julgamento. Para Cesar Venture Camargo, filho da
vítima, a decisão é uma resposta tardia: “Não vai trazer meu pai de
volta, mas ele [Prochet] já vai pagar um pouco pelo que fez”. A família
de Camargo está assentada em Ramilândia, região Oeste do Paraná.
“Passados 15 anos, dois extravios do processo e dois adiamentos de
júri, a condenação de Marcos Prochet é um marco histórico na justiça
paranaense”, é o que afirma Darci Frigo, coordenador da Terra de
Direitos. Para Frigo, a condenação do estado Brasileiro na Organização
dos Estados Americanos (OEA) pelo crime contribuiu decisivamente para o
resultado de hoje.
Depois da condenação na OEA, o caso Sebastião Camargo passou a ser
acompanhado pelo programa Justiça Plena, que monitora e dá transparência
ao andamento de processos de grande repercussão social.
O júri foi marcado por interrupções e acusações de incidentes
processuais por parte do advogado de defesa, Roberto Brzezinski Neto. O
juiz que presidiu o júri, Leonardo Bechara Stancioli, chegou a pedir o
registro das atitudes do advogado em ata.
Roberto Brzezinski Neto é um dos advogados do ex-deputado Carli
Filho, acusado de duplo homicídio, quando bateu a 190 quilômetros por
hora. A defesa já havia conseguido o adiamento do julgamento do réu por
duas vezes, em novembro de 2012 e em fevereiro deste ano.
Para defender Marcos Prochet, o advogado direcional a acusação da
morte do sem terra a Firmino Borracha, já condenado pelo assassinato de
Eduardo Anghinone, em 1999. Prochet esteve no julgamento de Borracha e
deu declarações afirmando a inocência do pistoleiro.
Outros envolvidos
Em novembro de 2012, duas pessoas foram condenadas por participação
no crime: Teissin Tina, ex-proprietário da fazenda Boa Sorte, onde o
agricultor foi morto, foi condenado a seis anos de prisão por homicídio
simples; e Osnir Sanches, condenado a 13 anos de prisão por homicídio
qualificado e constituição de empresa de segurança privada, utilizada
para recrutar jagunços e executar despejos ilegais.
No dia 04 de fevereiro deste ano, o terceiro réu, Augusto Barbosa da
Costa, acusado de homicídio doloso no envolvimento no caso, foi julgado e
absolvido pelo júri. A maioria dos jurados reconheceu a participação do
réu de forma efetiva e consciente no crime, portando arma de fogo e
aderindo à mesma conduta dos demais presentes no despejo, mas assim
mesmo votou pela absolvição do acusado.
No mês de julho deste ano, o Ministério Público do Paraná também
denunciou por suspeita de participação no crime o ruralista Tarcísio
Barbosa de Souza, presidente da Comissão Fundiária da Federação de
Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), ligada à Confederação Nacional
da Agricultura (CNA). O ruralista é ex-tesoureiro da União Democrática
Ruralista (UDR) e ex-vereador em Paranavaí pelo partido Democratas
(DEM).
Entenda o caso
Sebastião Camargo foi morto durante um despejo ilegal na cidade de
Marilena, Noroeste do estado, que envolveu cerca de 30 pistoleiros. Além
do assassinato de Camargo, 17 pessoas, inclusive crianças, ficaram
feridas.
O crime compõe o cenário de grande violência no campo vivido no
período do governo Jaime Lerner no Paraná, onde aproximadamente 16
trabalhadores sem terra foram assassinados.
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