sexta-feira, 25 de abril de 2014

Dirigente Nacional do MST faz palestra na Assembleia Legislativa sobre os 30 anos do movimento


Atendendo ao requerimento 470/2014, de autoria do deputado estadual João Daniel (PT), o grande expediente da sessão da Assembleia Legislativa nesta quinta-feira, dia 24 foi reservado para uma palestra com a dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Via Campesina, Gislene Reis. Na oportunidade, ela falou os 30 anos de luta e resistência do movimento no Brasil e em Sergipe. As galerias do parlamento estadual ficaram totalmente ocupadas por representantes do movimento que foram prestigiar a participação da sua representante.


Na palestra, Gislene Reis traçou para os parlamentares um panorama do que é e como surgiu o MST no Brasil. Na tribuna, ela falou sobre a gênese do movimento, a história de luta pela Terra no Brasil e como o movimento foi gestado pela herança do modelo de luta pós-ditadura no Brasil. Gislene destacou dois grandes referenciais nessa luta que foram a ocupação das granjas Macali e Brilhante, no Rio Grande do Sul, em 1979, e a ocupação Encruzilhada Natalino, no mesmo estado, em 1981. Segundo ela, em 1984 no Encontro Nacional do MST, na cidade paranaense de Cascavel, foi que se homologou a criação oficial do MST como movimento social.

De acordo com Gislene Reis, os objetivos do MST são a luta pela terra, a reforma agrária e transformação da sociedade. “Somos um movimento que tem a natureza de um movimento social de massa, autônomo, apartidário e de luta pela reforma agrária no Brasil”, ressaltou a dirigente do MST em Sergipe.

Gislene também destacou a forma de organização do Movimento, que possui princípios de direção coletiva. Uma das características do MST é que a organização de representação prima pela equidade de gêneros, com homens e mulheres na sua composição. O Movimento possui setores e coletivos: Educação, Produção, Formação, Comunicação, Cultura, de Saúde, de Frente de Massa, de Gênero, além do Coletivo de Juventude e de Relações Internacionais.

Durante sua palestra, Gislene Reis expôs um pouco dos métodos de organização do MST. São eles o trabalho de base, contato com a população, a luta de massa, formação de quadros, mística, valores, democracia participativa e autonomia financeira.

Na sua explanação, a dirigente nacional do MST falou sobre os congressos nacionais do MST realizados desde 1985. A cada cinco anos, integrantes trabalhadores e trabalhadoras rurais se reúnem para discutir o direcionamento e encaminhamentos do movimento. A primeira edição aconteceu no Paraná. A sexta e mais recente foi realizada no mês de fevereiro, em Brasília (DF).

Durante a palestra, Gislene apresentou algumas fotografias para mostrar a realidade do movimento, a exemplo do registro da ocupação da fazenda Anoni, no Rio Grande do Sul, do Roseli Nunes, a ocupação histórica da Chesf, em Sergipe, e a fazenda Tingui. Um registro que ela destacou foi o do massacre em Eldorado dos Carajás, no Pará, no ano de 1998, quando 22 trabalhadores foram mortos no confronto com a polícia. Este fato resultou no movimento Abril Vermelho, realizado todos os anos pelo MST. 

Importância do Movimento
De acordo com Gislene Reis, atualmente existem 12 mil acampamentos espalhados por diversos rincões do país, que representa uma movimentação de mais de 90 mil trabalhadores. São mais de 2 mil assentamentos em todo Brasil. O MST está organizado em 23 estados brasileiros e o Distrito Federal.

Em Sergipe, são 8 mil famílias acampadas esperando ter acesso à terra. Aproximadamente são 215 assentamentos distribuídos em todo estado. Segundo Gislene assim como em Sergipe em todo Brasil é preciso apoio das autoridades pela reforma agrária, entendendo essa como uma política social. E com isso, disse ela, o benefício não será só para o trabalhador do campo, mas também para as pessoas que vivem na cidade.

Ela registrou que, hoje, 70% dos alimentos produzidos no campo são pelas mãos dos pequenos agricultores em áreas de reforma agrária, alimentos que garantem a alimentação dos brasileiros. No entanto, destacou Gislene, ainda existem muitas dificuldades nos assentamentos. 49% deles não possuem água potável. Muitos não têm eletricidade. É precário também o acesso à escola. Segundo ela, 62% não têm acesso à saúde e precisam se deslocar dos assentamentos em busca disso.

“Conquistamos nesse período de 30 anos mais de 2 mil escolas públicas, temos mais de 300 mil trabalhadores estudando mais de 4 mil professores do MST que se deslocam pra escolas em assentamentos. Temos grupos de teatro, cultura, entre outros entretenimentos”, destacou entre as conquistas do MST em três décadas. Gislene agradeceu o apoio e o espaço aberto pela Assembleia Legislativa, através do requerimento feito pelo deputado João Daniel, e pediu o apoio do Poder Legislativo na luta pela reforma agrária como instrumento de transformação.

Ao final da fala da dirigente nacional do MST e Via Campesina, e após o deferimento da Mesa Diretora ao pedido da palestrante, os trabalhadores rurais sem terra cantaram juntos e de mãos dadas o hino do Movimento.

Debate
Após a palestra, alguns parlamentares se manifestaram. O deputado Adelson Barreto (PTB), que presidia a sessão, disse que ficou impressionado com a forma que as pessoas se expressaram no momento do hino do MST. “Esse é realmente um movimento muito organizado e gostaria de parabenizar todos vocês”, disse.

A deputada Goretti Reis (DEM) parabenizou Gislene Reis por sua explanação, onde mostrou firmeza e conhecimento do movimento – até porque desde os 12 anos de idade faz parte dele –, as dificuldades e os avanços que vem acontecendo tanto nos acampamentos como nos assentamentos. “Isso só vem mostrar a importância que a agricultura familiar tem para o desenvolvimento da região e fixação das pessoas no campo”, disse.

Para ela, é importante que o governo federal dê não só a terra, mas condições para que o trabalhador possa produzir, como apoio técnico, sementes, acesso a tecnologia. “São importantes essas parcerias, esses apoios que o campo precisa pra se desenvolver e para que produção por essas famílias A todos que fazem parte do movimento parabéns e que sejam cada vez mais olhado pelo poder público”, disse Goretti.

Ciranda infantil e educação
A deputada Ana Lúcia também parabenizou o movimento. Ela fez dois questionamentos à palestrante sobre a ciranda no campo que é realizada pelo MST e sobre a visão da educação contextualizada e politizada e da alternância que o movimento tem experiência nesse sentido. Gislene Reis explicou a ciranda infantil é um dos princípios que o MST defende desde o processo de formação das crianças. 

“Não concordamos com a terminologia creche. Mas, sim, com a ciranda infantil, pensado o seu dia a dia da criança com viés ideológico e valores”, disse, acrescentando que este é um espaço de cuidado da criança e não na visão de apenas olhar e alimentar a criança. “Mas pensar a educação dessa criança, formar um cidadão crítico que possa intervir na sua realidade”, explicou.

Quanto ao processo de educação no MST, Gislene disse que o movimento defende a educação do e no campo, com a pedagogia do movimento, sendo herdeiros da metodologia e filosofia de Paulo Freire. “O MST defende a metodologia de alternância, de construção coletiva, de crítica e autocrítica para um cidadão que possa fazer uma intervenção na sociedade”, disse.

O deputado João Daniel, autor do requerimento que possibilitou a palestra, agradeceu a presença dos parlamentares que acompanharam a explanação. Ele solicitou que Gislene Reis falasse um pouco sobre a importância das atividades de solidariedade feitas pelo MST e também um pouco do trabalho feito pela juventude.

Segundo Gislene, a solidariedade é um dos princípios e um dos valores que o MST defende. “Bebemos na fonte do que foi a construção cubana e o processo bolivariano e outros que ocorreram na história”, acrescentou. Ela falou que essa solidariedade é prestada no Brasil e no mundo, com companheiros que vão levar seu apoio, participando brigadas internacionalista, grupos de trabalhos que se deslocam para viver em outro país, em outras realidades no campo. Atualmente são 12 brigadas no exterior dando sua contribuição, entre elas, no Haiti e Moçambique.

Com relação à juventude, ela disse que há vários exemplos de companheiros que se deslocam para outros locais para participar de atividades pontuais e de construção da solidariedade e troca de experiência, construindo assim o conhecimento.

Fotos: Maria Odília, da Agência Alese

Nenhum comentário:

Postar um comentário