quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

"É o povo organizado que vai fazer a Reforma Agrária"

  
Entrevista com Gilmar Mauro, da direção nacional do MST 

14 de fevereiro de 2014, Brasília

Quais são os grandes desafios colocados ao MST a partir deste VI. Congresso?


Gilmar Mauro - O nosso grande desafio  no próximo período é, primeiro, fortalecer a nossa organização. Nosso pé tem que estar calcado na Reforma Agrária, na luta pela terra. A partir deste pé na luta pela terra, temos que estabelecer relações com outros setores da classe trabalhadora. Três questões são fundamentais para este debate com a classe trabalhadora. Primeiro: que uso a gente quer dar ao solo, à água, aos recursos naturais em geral. Se for este uso que o capital está dando, não precisa mais de Reforma Agrária. Mas se nós quisermos outro uso, então vamos ter que fazer a Reforma Agrária. Dois: que tipo de alimentos vamos querer comer? Se for a comida produzida pelo agronegócio, também não precisamos de Reforma Agrária. Mas esta produção está  envenenando o povo com agrotóxicos, envenenando o solo, a água e os recursos naturais. Terceiro: que tipo de paradigma tecnológico e de produção queremos? Nós queremos uma tecnologia que seja a serviço da diminuição do ritmo de trabalho, que ajude a aumentar a renda dos camponeses, mas também que seja utilizada para produzir alimentos saudáveis, que não impactem o meio ambiente. Então, se queremos outro uso da terra, dos recursos naturais, outro tipo de comida e outro uso da tecnologia, a Reforma Agrária é a coisa mais moderna a ser feita. E, por isto, vamos ter que lutar com toda a sociedade, e não o MST só.

Como fortalecer o MST enquanto organização?

Temos que horizontalizar o MST, estimular a participação das mulheres, combater qualquer tipo de discriminação e violência contra as companheiras, contra as crianças: não podemos admitir este tipo de violência no nosso meio. Temos também que estimular a participação da juventude, a participação da terceira idade, que hoje tem mais condições de participar, a nos ajudar na frente de massa, na produção, no setor de saúde, na educação, etc. O MST é um movimento popular, portanto tem espaço para todo mundo. Nenhum dirigente pode impedir que o povo participe. Ao contrário: tem que estimular a participação. Quanto mais militantes participando, mais trabalho realizado. Isto, inclusive, poderá diminuir o trabalho para o dirigente. Porque é a classe que é o sujeito, que vai fazer a luta, que vai fazer a Reforma Agrária. Nós não vamos fazer a Reforma Agrária pelo povo. É o povo organizado que vai fazer a Reforma Agrária. Isto é o grande desafio. Vamos horizontalizar,  criar espaços de formação para a nossa militância, inovar permanentemente. Principalmente, vamos fazer muita luta. Porque é na luta que o trabalhador e a trabalhadora se transformam no protagonista da sua história. É na luta que a gente se forma, é na luta que a gente conquista aquilo que nós precisamos, para o nosso povo e a classe trabalhadora.

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